sábado, 10 de setembro de 2016

Como os Movimentos dos Secundaristas invalidam o programa Escola Sem Partido

Em 2005 surgiu de dentro do Fórum Social Mundial, o Movimento Passe Livre, que liderou a primeira fase das manifestações de 2013 contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. Foi um movimento que obteve vitórias em diversos estados brasileiros e, com o tempo, ganhou maior complexidade, e ainda hoje é  incompreendido. Uma das razões foi ter contribuído com o recente afastamento da presidenta Dilma Roussef. E também por ter politizado diversos adolescentes, entre eles os secundaristas de São Paulo, que passaram a ocupar as escolas, se insurgindo contra o fechamento de cerca de duzentos colégios e demissão de profissionais da educação. Trezentos mil estudantes se uniram aos pais, professores, e também a outros trabalhadores e a movimentos sociais. Os secundaristas de São Paulo barraram, ainda que temporariamente, a reorganização imposta pelo governador Geraldo Alckmin do PSDB, que demitiu o Secretário da Educação. O Movimento Secundarista em 2015 foi exitoso, principalmente devido a sua organização e seriedade, constatada pelo filósofo e pedagogo Dermeval Saviani, que declarou: “Fui lá conversar com os alunos e percebi a seriedade deles, a capacidade de visão da importância da educação, a atenção para o risco da entrada de estranhos na escola para depredar e culpá-los”.

O Colégio Estadual Julio de Castilhos foi a quinta escola a ser ocupada em Porto Alegre
Para Pablo Ortellado, as ocupações de escolas em São Paulo “são o filho mais legítimo das manifestações de Junho de 2013”. Em 2016 os secundaristas ocuparam a Assembleia Legislativa de São Paulo por uma instalação de uma CPI para investigar o desvio de recursos públicos para a merenda escolar, e o movimento chegou ao Rio Grande do Sul, respingando no ensino privado. Alunas secundaristas e do ensino fundamental protagonizaram o que na aparência seria uma luta para poder usar shortinho, mas o manifesto das alunas do colégio privado Anchieta mostrou que este movimento estava ligado a uma onda de politização estudantil iniciada desde 2013. Não houve ocupação do colégio Anchieta, mas na divisa com o Uruguai, o Bloco de Lutas pela Educação Pública organizou a ocupação da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). No estado gaúcho, mais de cento e cinqüenta escolas foram ocupadas.
Talvez em resposta a isso tudo, foi enfatizada uma campanha em torno do programa da Escola Sem Partido, quando os liberais brasileiros pediram socorro do Estado, para impedir a continuação deste processo de politização dos estudantes, para muito além da polarização fora-temer-volta-querida. Provavelmente os defensores do Projeto de Lei inspirado no programa acreditem que todo o Movimento dos Secundaristas seja resultado da doutrinação esquerdista. Mas essa suposta doutrinação não existe nas escolas. No Rio de Janeiro, após cerca de setenta escolas estarem ocupadas, outro grupo de estudantes criaram o movimento “Desocupa Já”. O líder do movimento, o secundarista Luan Freitas, afirmou: “Com essa situação, tiraram o pouco do direito que eu tenho de estudar, que o que eu mais quero é estudar. Eles são chamados de revolucionários e eu sou só um estudante que quer estudar”. O movimento mostra que os secundaristas não possuem uma uniformidade de idéias: enquanto uma parte dos estudantes brasileiros luta por melhores condições de ensino para todos os seus colegas e de trabalho para todos os seus professores, outros se esforçam por mais condições individuais para passar nos vestibulares, e nas provas do ENEM. E para despolitizar os estudantes, o alvo deverá ser as ruas, a origem da agitação política de hoje. Porque as nossas escolas reproduzem a sociedade aonde elas estão inseridas, os secundaristas são diversos como variados são os adolescentes do Brasil. Em que medida seria correto considerar uma unidade, estas pessoas que estão em uma fase de transição, como supôs o programa Escola Sem Partido?

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