sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Sobre o papel da família na História da América Latina: o caso particular da Nicarágua

A Frente Sandinista de Libertação Nacional foi a vanguarda que organizou o levante armado e popular contra a ditadura da família Somoza. O comandante Daniel Ortega Saavedra foi um integrante da FSLN, que hoje é um partido político. Através deste partido, Ortega governa a Nicarágua há muitos anos.  8,05 % de votos, certa vez, bastaram para ser eleito. Por meio da coligação Aliança Unida, Nicarágua Triunfa, visa a sua terceira eleição consecutiva. Afirmou que seus objetivos são erradicar a pobreza, a estabilidade econômica e política, a paz, a segurança, continuar impondo a Nicarágua valores cristãos, com princípios socialistas e práticas solidárias. Se for eleito no pleito que ocorrerá em 06 de novembro, neste ano de 2016, sua esposa Rosario Murillo, poeta e ex guerrilheira, será eleita vice presidente. Ela afirmou que a Revolução Popular Sandinista permitiu o reconhecimento da liderança e capacidade da mulher na Nicarágua, lugar aonde há um protagonismo pleno da mulher. Seu esposo, por sua vez, revelou que ela representa a mulher nicaragüense, e que durante a gestão da Frente, hoje há 56% de mulheres  na condução do governo. Ortega, que foi alvo de denúncias de escândalos de pedofilia no passado, em seu mais recente discurso valorizou a família, reconhecendo que estava rompendo com a estrutura ideológica do machismo. E é verdade que ele tem a família como princípio.
Rosario Murillo e Daniel Ortega
A aprovação do atual presidente está entre 40 e 60%. Uma boa aprovação, para um governo tão longo. Ainda assim, promoveu a destituição de 28 deputados opositores, do Partido Liberal Independente (PLI) e do Movimento de Renovação Sandinista (MRS). Essa foi uma das medidas que contribuíram para a acusação de golpe parlamentar, visando uma ditadura de partido único ou hegemônico, inspirado no regime cubano socialista. A realidade, no entanto é outra. O golpe foi do seu governo contra o projeto sandinista de pluralismo político, independência política e de economia mista. A ênfase na perseguição a oposição liberal e dissidentes sandinistas, esconde que houve também freqüentes privatizações, entrega de riquezas naturais e acordos desiguais com os Estados Unidos da América. O anti imperialismo apontado pela mídia que acusa o autoritarismo de Ortega é apenas retórico e o regime nicaragüense hodierno é diferente do cubano. Há, sim, o retorno do que a FSLN, antes de ser transformada em instituição, combatia: uma ditadura familiar, uma dinastia. Aventada a hipótese de grave doença, haverá a sucessão familiar no poder. Portanto, a Nicarágua vive um novo regime político somozista em um socialismo que gera milionários. 


Não se respira um ar de golpe ou de emergência nesta porção da América Central. A força política do PLI é exagerada. E essa oposição vai propor as massas ístmicas o anarquismo. Contra a regressão autoritária orteguista, uma campanha pela abstenção eleitoral, tendo em vista novas eleições em 2017, pacificamente. Não há uma reação nacional, nem um alerta de agências internacionais contra Ortega. O comandante poderá ser reeleito indefinidamente, aprovar leis sem necessidade de aprovação da Assembleia Nacional, como pôde empregar familiares em cargos de governo e nas administrações de empresas estatais, e está provavelmente preparando a sucessão familiar do trono na insólita Nicarágua.

1 comentários:

Revistacidadesol disse...

Artigo interessante, mas ainda marcado pela simpatia com Ortega. "Socialismo que gera milionários"??? É um total abuso do termo socialismo.

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