domingo, 15 de maio de 2016

Getho Mondesir e o Brasil Colonial entre nós

Getho Mondesir, um jovem acadêmico, hoje cursando Administração Pública e Políticas Públicas na Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA) foi vítima de ações criminosas dias atrás. O chamaram de “macaco”, diziam que ele estava na universidade apenas por causa da Dilma e que deveria voltar ao seu país de origem. A agressão física e verbal foi realizada por um grupo de seis homens, na avenida Brasil, no centro da cidade de Foz do Iguaçu no Paraná. Ainda não eram seis horas da manhã, e o agredido iria viajar rumo a Cascavel para ver o seu filho de oito meses. Getho tentou dialogar, mas recebeu vários golpes com garrafas de cerveja, mesmo enquanto estava atirado no chão. Houve descaso dos policiais e depois o estudante teve atendimento negado no hospital da cidade. A foto com seu rosto sangrando está nas redes sociais, partilhada por centenas de pessoas compreensivelmente indignadas. Trata-se se um imigrante haitiano que foi contemplado pelo programa pró-Haiti da UNILA.


Esta história iniciou em 2010, quando um terremoto matou mais de trezentos mil haitianos, e o Brasil tornou-se palco de abusos e humilhações diversas contra os trabalhadores negros estrangeiros, mais uma vez. Um racismo que remonta aos tempos de Brasil Colonial. Outrora contra os africanos, hoje contra os haitianos. Porém, se no passado sem autonomia, as leis proibiam o ingresso de negros nas escolas, hoje temos cotas favorecendo a entrada destes estudantes em instituições de ensino superior. Por outro lado, uma parcela da sociedade brasileira repete as práticas dos corpos de homens do mato, dos bandeirantes e do exército brasileiro até o final da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, a Guerra Grande. O tempo para esses brasileiros anda mais devagar. Alguns dos problemas enfrentados em 2016 pelos haitianos no Brasil são os mesmos dos trabalhadores negros escravizados entre os séculos XVI e XIX: ausência de familiares, pouco domínio do idioma português, péssimas condições de trabalho. A demora na liberação de documentos provavelmente tenha sido a causa da negativa para atendimento médico a Getho Mondesir. A comparação não é exagerada.

No Brasil aonde o Estado é mínimo para os pobres, e os imigrantes haitianos recebem bolsas para iniciar seus estudos, mas não recebem o mínimo necessário, seja em  segurança, ou em saúde, houve casos de escravização em moradias análogas as senzalas. Um espaço grande com fogões a lenha e construção que nem era alvenaria. Trabalho ininterrupto por cerca de quinze horas, com alimentos escondidos, e sem salário. Faz tempo, e foi bem depois da Lei Áurea de 13 de maio de 1888. Quando Getho Mondesir chegou ao Brasil, em 2013, haitianos eram libertados de situações análogas a escravidão. Os haitianos que aboliram a escravidão em 1791 através de uma revolução social no seu país, hoje voltam a serem escravizados, perseguidos e agredidos de todas as maneiras, aqui no Brasil.

1 comentários:

Paulo Falcão disse...

Gostei do artigo. Descreve episódios que revelam o quão longe muitas pessoas estão de um mínimo de civilidade.

No entanto, creio que uma reflexão extra seja necessária: mesmo se todos os brasileiros abandonassem totalmente o racismo, a imigração Haitiana ainda seria problemática pela dificuldade do idioma e, em sua maioria, baixa qualificação profissional. Um grupo grande, com muitas carências, é difícil de ser integrado sem traumas. Acrescentando-se a isto o racismo, temos uma tragédia humanitária.

Segue abaixo um link para artigo que trata de problema correlato, não de trabalho escravo, mas de dificuldade de integração.
Swedish Finance Minister Admits ‘Big Problems’ with Economy After Migrant Influx
http://www.breitbart.com/london/2017/05/14/finance-minister-problems-migrant-influx/

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